sábado, 28 de novembro de 2009

Arma blindada brasileira aprendendo com as estrangeiras?




O novo novo VBTP-MR pode ainda significar um grande salto não só de tecnologia, como também de doutrina para o Exército Brasileiro, principalmente se o nosso Guarani realmente ganhar uma versão 8x8 conforme vem sendo comentado.

Com uma versão 6x6 e outra 8x8, o modelo que no momento possuí peso estimado na ordem de 18 toneladas, sofreria ampliação e facilmente ultrapassaria as 20 toneladas em uma versão 8x8 e com isso se igualaria aos VBTP's sobre rodas de outras nacionalidades, principalmente ao suíço MOWAG Piranha (interessante o nome para um produto suíço não?).
O MOWAG Piranha é inclusive a base de vários VBTP's no mundo, com várias versões, modificações e adaptações o desenho alcançou sucesso impressionante e chegou até em terras da América do Norte e no Brasil os nossos fuzileiros navais operam o Piranha em sua versão 8x8 anfíbia, contratos ordenados em 2006, 2007 e o último lote em 2008.
A quantidade de Piranhas operados no Brasil hoje é muito pequena, porém com a entrada em serviço de uma "legião" de Guaranis o quadro hoje insuficiente deve mudar.

O modelo suíço causou tanto sucesso que ganhou diversas versões construídas sob licença, especialmente no Canadá, onde o modelo deu origem os seguintes veículos:
AVGP - com as variantes Cougar, Grizzly e Husky este veículo sendo um 6x6.
Família LAV com as variantes LAV 25, LAV II e LAV III com ampla utilização no Canadá e até nos EUA, sendo essa família de veículos 8x8.
Os Coyote e também os Bison sendo os últimos operados pela Guarda Nacional dos EUA e a maioria pelas forças de reserva do Canadá.

O sucesso dos VBTP's canadenses não é infundado.

As forças terrestres precisam de transporte de pessoal que seja realizado de forma rápida e eficiente e nem sempre os meios aéreos estão disponíveis, pois por aviões a situação seria muito complicada, helicópteros podem se tornar alvos fáceis, mas os VBTP mesmo sofrendo com outros problemas podem ser mais rápidos e eficientes além de até menos vulneráveis.

A mobilidade é a essência do negócio quando o assunto é VBTP e por isso que vários países do mundo sustentam sua arma blindada neste tipo de veículo (tal qual a estratégia canadense, possuindo inúmeras versões e modelos desse tipo de veículo a sua disposição).

Até mesmo os russos sabem o peso dessa "estratégia" e apoiam boa parte da sua arma blindada nos BMP-2 e BMP-3 (veículos blindados sobre esteiras), porém vem sendo dado cada vez mais espaço a família BTR na qual os russos já se encontram na versão BTR-90 sendo o primeiro modelo da família BTR a ser desenvolvido depois do período como União Soviética.

A família BTR teve sua origem na década de 50, sendo o BTR-60 o primeiro da série depois com as versões BTR-70 e BTR-80, essa família acabou sendo uma parte importante da arma blindada soviética devido a sua velocidade e mobilidade, sendo que os membros até o modelo "80" tiveram a penetração de mercado típica dos produtos soviéticos até a década de 80, porém o modelo BTR-90 está em utilização somente na Rússia.

O mais interessante vem agora, depois dos diversos modelos de sucesso (principalmente o PIRANHA) é bom ver como as potências demonstram importância nas viaturas blindadas sobre rodas para o transporte de suas tropas.

Os EUA tiveram seu primeiro "novo" modelo de veículo para transporte de tropas desde a década de 80 no modelo Stryker o veículo foi desenvolvido pela General Dynamics Land Systems com auxílio canadense e sendo também uma "derivação" do modelo Piranha suíço.
Os Stryker's, que hoje já estão em serviço em grande número, devem ainda substituir duas Brigadas de Combate Pesado que hoje utilizam os blindados sobre esteiras M1 Abrams e M2 Bradley, esse fato sem dúvida demonstra o potencial do blindado e a mudança de doutrina na utilização de blindados.

Hoje o Stryker já é operado nos EUA em mais de 1.400 unidades (lembrando que o veículo se tornou operacional em 2002) possuindo hoje mais de 9 versões diferentes para a realização das mais diversas missões com atenção especial ao Mobile Gun System uma versão que apresenta um canhão de 105mm, desenho muito semelhante ao B1 Centauro italiano, que é utilizado como "tank destroyer" por seus operadores, ou seja, um "caçador de tanques" (e era produzido pela IVECO, mesma do Guarani, a linha de montagem já foi encerrada).

Esta versão "MGS" (mobile gun system) chegou a ser encomendada pelo Canadá em 2003 para substituir tanques convencionais Leopard A1 que seriam desativados, porém a decisão foi revista e cancelada em 2006, juntamente da decisão canadense de encomendar novos tanques Leopard A2. Porém fica a mensagem de que uma VBTP pode ser desenvolvida até o ponto de substituir os MBT's (Main Battle Tank ou tanque de batalha principal) em algumas de suas tarefas, dada sua agilidade, mobilidade e velocidade.

Além disso a França também possuí um novíssimo VBTP sobre rodas o:
Véhicule Blindé de Combat d'Infanterie (VBCI ou Veículo Blindado de Combate de Infantaria)
Esse não manda recado, ele diz!
Primeiro a tarefa clara: substituir o AMX-10P (blindado sob esteiras) que é hoje o padrão para transporte blindado de tropas na França, um veículo que nada mais é do que um modelo similar ao M113 ou M2/M3 Bradley americanos.

O VBCI francês é o mais pesado dentre os veículos 8x8 blindados para transporte de pessoal disponíveis no mercado, por isso não manda lembranças, ele pesa 25,6 toneladas em configuração de combate (lembrando que nenhum modelo hoje ultrapassa 23 toneladas carregado) e isso já é um número para causar impacto e respeito. Sua encomenda inicial foi de 700 para o Exército Francês, mas dadas as capacidades inclusive anfíbias o número deve aumentar e dotar também os fuzileiros navais franceses.

O modelo foi projetado para ser transportado no A-400M, aumentando sua mobilidade com transporte aéreo e já entrou em operação na França ainda em 2008, pode-se dizer em teoria que se trata do modelo mais moderno hoje no mercado, porém não se possuí notícias sobre exportação do mesmo, apesar de ter sido considerado para um programa britânico visando compra de novos blindados desta categoria.
Novas versões e possibilidades de armamentos já são estudados para desenvolver ainda mais o VBCI, porém nada foi anunciado oficialmente até o momento.

Os franceses passaram muitos anos com seus velhos AMX-10 (oriundos dos anos 60) vendo sua doutrina de combate se tornar ultrapassada, porém a chegada do VBCI causa uma mudança que será uma guinada real tanto na tecnologia disponível quanto no pensamento e forma de ação do exército francês.
O caso vale um pouco também para os britânicos que mesmo possuindo blindados de transporte de pessoal sobre esteiras mais recentes (oriundos da década de 80) já repensaram sua doutrina e com o programa FRES (Future Rapid Effect System), no qual o vencedor foi o Piranha V, tornaram a base da arma blindada britânica um veículo VBTP (estima-se algo em torno de 3.000 unidades em encomenda).
Desenho conceitual de um posssível Guarani em versão 8x8

Por isso o nosso "Guarani" pode sim significar uma forte mudança na forma de ação de nossa arma blindada, talvez até mesmo nos equiparando um pouco à grandes potências.

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